Dicionário da Língua Portuguesa
falada
no Estado de Minas Gerais –
Brasil = (Mineires)
Já faz algum tempo, que venho tentando escrever
alguma coisa, para homenagear meu querido Estado de Minas Gerais - Brasil,
estado esse, como diz o letra da música de José Duduca Morais e Manoel Araújo:
- “Oh Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais”.
Eu disse música, pois na realidade, não é reconhecida
oficialmente como hino e é uma adaptação de uma música italiana, “Viene
Sul Mare", de Enrico
Caruso.
Assim venho colecionando algumas palavras ditas em prosas,
causos e no cotidiano, muitas vezes, compreendidas somente no estado mineiro,
fazendo destas uma linguagem original e simplória, em dialeto próprio.
Simples sim, somos nós mineiros, mas sabemos receber bem
à quem nos chega, com humildade e cortesia, o que não quer dizer, que somos
tolos, pelo contrário, aprendemos desde a infância, que:
- “Temos
dois ouvidos, dois olhos e apenas um boca”, ou seja, ouça e veja mais e fale
menos e, quando falar, fale com conhecimento de causa.
Portanto,
vamos a partir de agora, contar nossa história no bom e tradicional “mineires”,
tendo como cenário, um tranquilo sítio, onde se pode fazer uma comida no fogão
à lenha e uma especial pescaria, daquelas onde o peixe maior sempre foge, mas juro,
sem mentira nenhuma.
Sendo
assim, vos apresento os compadres e comadres:
1-Miro,
cujo nome é Ramiro.
2-Juca,
de nome Joaquim.
3-Doca,
que é Aparecida.
4-Ciça,
que é Cícera.
Nós
mineiros, temos por hábito abreviar as palavras, muito comuns nos codinomes de
nomes próprios e, normalmente subtraindo os “R” dos verbos, lhes acentuando as
vogais. E ainda, vocês perceberão que o “Ê” tem som de “I”, assim como, o “O”
tem som de “U”.
Então
chegamos ao nosso conto...
O
encontro dos compadres.
- Dia, cumpadi
Juca!
- Dia cumpadi
Miro!
-Cumé
que tá a cumadi Doca?
-Lá vai
inu, pelejanu, inté cumbinô cá cumadi Ciça, di í lá na casa docéis, daqui a poquin,
pra mode massá umas quitanda i ponhá pra assá.
-É memu
sô, intão qué dizê, qui hoji mais loguin, nóis vai tê broa fresca, né verdade?
-É sim cumpadi,
i tamém uns pãozin di quejo, né memu?
-Intão,
cumpadi Juca, vamu deixa ésa trabaiá i vamu nóis pescá, cumu cumbinemu.
-Certin
cumpadi Miro, pega us trem lá na tuia, põi num imborná, queu vô rancá umas
minhoca, pra nóis ponhá di isca, prus pexe.
-Tô inu.
As vara tá lá tamém?
-Tá sim
sinhô.
-I cê
tá pensanu í di cavalu ô di ôns? (ônibus)
-Que
isso cumpadi, nóis vai di pé memu sô, u riu Furmiga é qui pertin, logu ali na
frenti. (Ali de mineiro é mais de 2km)
-Cê qui
sabi. Vô levá um litrin di cachaça das boa, pra nóis tamém.
-Uai sô,
podi isquecê disso não, si não nóis num conseguí quentá as musquitera, us
burrachudu, qui vai querê incomodá nóis u tempu tudin.
-Tão tá bão, dexa eu i lá
busca i cê vai lá rancá as minhoca.
-Sim sinhô.
Enquanto
isso as comadres...
-Dia cumadi Ciça, vim ti dá o digitóro, nas quitanda!
-Dia cumadi Doca, vamu entrá!
-Tô trazenu as farinha i u porviu pra nóis trabaiá.
-Tá bão cumadi, já coí us ôvus i panhei um cadin di
mio verde, pra nóis fazê uns bolin.
-Cê é isperta hein cumadi! Bolin di mio verde cum cafézin cuado na hora é
ispiciá memu!
-Tão senta aí e vamu cumeçá nossu selviço.
-Cumadi
Ciça, prestenção, nóis pode inté fazê as quitanda bem temperadin, mais us doce,
nóis vai pricisá manerá nu açúca, cadiquê u Miro, tá cum diabeti, i u dotô
mandô ele tomá cuidadu, pra num izagerá.
-Nooosinhora
cumadi du céu, vi contá qui issu é probrema sériu i qui tem di tomá remédiu pra
controlá memu.
-É memu
i u pió, qui é pru restu da vida, inté morrê.
-Mais
vamu largá di prosa ruin i vamu trabaiá.
-É memu,
cê tem razão, vamu lá pra baxu, fazê as quitanda, qui u fornin di lá é novin e
tá mais mió di assá.
-Tão tá
bão cumpadi Juca, nóis tá na lua nova, intão achu qui vai dá pra trazê um cadin
bão di pexe!
-Tamém
achu!
-Vamu
postá qual di nóis pega u maió?
-Nem pensa
cumpadi Miro, ocê é mais ispirienti queu, intão vai levá vantagi. É ruin hein!
Sô besta não uai!
-Que
issu sô, num é questã di ispiriença, é sorti memu.
-Di
jeitu manera, nóis vai pescá memu só pra divertí, nadinha di postá.
-Tão tá
bão, mais quem pegá u maió, fica cá pinga, tá bão assim?
-Assim
tá, nóis vai bebê di quarquê jeitu memu.
-Firma
a vara cum força Juca, i traiz divagarin pra berada, sem dá arranco, si não u
bichu rabeia i iscapoli memu.
-Tá bão,
cumpadi, mais cumé queu ia divinhá, quesse bichão vinha caí izatamente na minha
vara.
-Mais eu
falei concê, qui se nóis veiu pescá, quarqué um pudia pegá, uai.
-Tá
bão, sem postá, mais vamu tomá otra pinga, pra nóis comemurá essa fisgada.
-Vô busca, peraí.
Chegando
em casa.
Miro
chama pela mulher:
-Nuuuu
Miro, ceis é bão memu, vô gorinha memu rumá a mesa, cás quitanda qui nóis assô,
i proveitá qui u fornu tá quenti i assá uns pexin pra nóis tamém.
-Faiz issu
memu muié inquantu eu mais u cumpadi vai lá na bica lavá, pra mode nóis tirá
essa catinga di pixe, misturadu cum barru.
E pra
contarem vantagem os dois pescadores registram.
-Nóoo,
esse povo brasileru, num sabi cumé qui é bão, a vida qui nu istado di
Mingerais. Nóis tein du bão i du mió, é tudu simplim, poquim, mais nóis sabi
divertí i cunzinhá cumida boa. Causo arguém quizé um cadim i pruveitá, nóis
fica isperano ôceis, prum dedim di prosa, boa cunversa, cumida i cachaça
ispiciá.
-Óia
qui, num careci tê dó de nóis não, inté purque nóis num pricisa, nóis é rezadô
i bençuadu, aqui nóis teim fartura memu.
-Eita lugarzin
bão, essa Minas Gerais! Veim nimim, que nóis faiz mizade.
-Inté,
otra veiz.
22/03/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário