8 de agosto de 2025

"Ecos do ECA"

                               “Ecos do ECA”

    Em uma fictícia reunião extraordinária de estudos, análise e conciliação estavam presentes:

Ø    Um filho (a criança),

Ø    Um irmão (o adolescente),

Ø    Um jovem (o aprendiz),

Ø    Um pai (o adulto),

Ø    Um avô (o idoso),

Ø    E um conselheiro tutelar (o ouvinte).

Esta era uma reunião imaginária, de 6 (seis) pessoas, por volta das 22h, de um domingo qualquer, onde durante uma retrospectiva de situações cotidianas, alguém resolveu buscar na história de vida, acontecimentos para uma avaliação e meditação da contemporaneidade.

Assim iniciou o filho (a criança):

_ Eu, fui educado em uma família grande, onde fomos ensinados a pedir a benção, para os nossos pais, antes de dormir e ao acordar, normalmente acompanhados de um beijo, em demonstração de carinho, com poucos recursos financeiros, mas nunca passamos necessidade de nada, porém, tínhamos que saber caminhar, para “não darmos o passo maior que a perna”. Nossos valores estavam vinculados à uma boa educação rígida com ética, moral e bons costumes, além do respeito e obediência aos pais, aos mais velhos, e com muita religiosidade, onde aprendemos, que existe um Ser Superior, O qual chamamos de Deus, independentemente de crença religiosa, que deveríamos amá-Lo e respeitá-Lo em qualquer situação enfrentada, sendo Ele o Nosso Criador.

Em seguida tomou a palavra o irmão (o adolescente):

­_ Pois é isso, nós tínhamos que nos unir, colaborar uns com os outros, irmãos mais velhos cuidando dos mais novos, não havia muita tecnologia, aliás, quase nenhuma, apenas um radinho a pilha, uma televisão em preto e branco, um aparelho de telefone fixo, que para fazer uma ligação, necessitava de uma agente da operadora, para realizar a chamada, uma máquina de escrever e nossas pesquisas escolares eram feitas em bibliotecas, ou em poucos livros em casa. A propósito, falando de escola, dávamos muito valor aos estudos, pois sabíamos que para melhorarmos nossa condição, necessitávamos aprender, e nossas professoras eram chamadas de mestras e não de “tias”, contávamos com um disciplinador, para a entrada, recreio e saída da escola, além das cantineiras que nos faziam umas refeições deliciosas, onde o respeito e obediência a esses era quase uma extensão de nossas casas. Ai de nós, se cometêssemos alguma malcriação ou desrespeito! Tempo bom, podíamos ficar nas ruas, sem medo, casa sem tranca ou grades, onde nossas brincadeiras eram recheadas de jogos de futebol, botão e tabuleiros, bolinha de gude, bete-alta, finca, carrinhos de rolimã e empinar pipas, tudo com hora marcada de início e fim. Às vezes uma desavença ou outra, com algum colega, mas tudo se resolvia com um conselho, ou palavra de boa amizade, onde se restabelecia a paz, em poucos instantes. Éramos felizes e tínhamos consciência de boas amizades.

Nesse momento interveio o jovem (o aprendiz):

­_ Realmente, você tem razão. Começámos a trabalhar cedo, conciliando escola e serviço, onde procurávamos, nos estudos e nas tarefas, a melhor forma de conhecimento e de contribuição como cidadãos de direitos e deveres. Muitos de nós saíamos de nossa casa, para buscar formação acadêmica e profissional, em outras terras, onde aprendemos a dar valor às conquistas, ainda que com saudades de casa, mas era preciso ir à luta, se quiséssemos vencer. Muitos desafios, porém, a cada batalha vencida ou não, um novo aprendizado, com os erros e acertos, obviamente, mas que serviram de experiências. De repente, novas tecnologias, acesso aos computadores e à Internet, onde a gente soube tirar proveito destas, para facilitar a vida cotidiana e a encurtar distâncias, incluindo os celulares, de tal forma que concluíamos com planejamento e organização tudo que nos era apresentado como desafios, alçando com êxito nossas metas, inclusive nas questões pessoais, em relação ao namoro e o afastamento de drogas ilícitas, pois as informações eram imediatas e adquirimos o discernimento para fazermos nossas escolhas, as quais todas elas, apresentam os seus resultados e as suas consequências.

Aí então, se manifesta o pai (o adulto):

_ Ouvindo tudo isso, fico cada vez mais convicto de que a “melhor herança que um pai pode deixar para seus filhos, é justamente a educação, mesmo que ele não a tenha!” Além de que, educação é responsabilidade de pai e mãe, não podendo transferi-la para as escolas, onde estas lhe cabem apenas a tarefa do ensino de matérias curriculares e extracurriculares, e por complemento, alguma noção de cidadania. Desta forma, fica bem caracterizado que lugar de filho é em casa e de aluno é na escola, com suas tarefas distintas. Aliás, eu sempre disse aos meus filhos, que poderiam me chamar nas suas escolas para qualquer atividade que se fizesse necessária, menos, repito, menos por indisciplina, justamente, porque essa não cabe em lugar algum. Até porque, eu os criei sem necessidade de lhes bater, e sim fazendo uso das palavras, não que não tenham feito por merecer, mas na minha concepção, palavras ensinam e surras doem, além da covardia de não poderem revidar, visto ao respeito que devem prestar e da desproporcionalidade do tamanho e força.  E sabedor de que não somos perfeitos, e que não temos a necessidade de provar nada para ninguém, mas isso jamais, não nos impede de nos superarmos a cada dia, para tentarmos ser e fazer o possível que se possa, na construção de um mundo melhor, procurei deixar-lhes mais que algumas palavras, transformando-as em exemplos, inclusive de que “honestidade não necessita de vigilância.”

No que vem complementar o avô (o idoso):

­_ Com todos esses relatos, eu realmente me sinto orgulhoso e em paz, pois concluo que deixei um bom legado, em que pudessem aprender e ensinar alguma coisa de útil e proveitosa, vendo que meus esforços não foram em vão. Gostaria que vocês fizessem o mesmo, para a posteridade, pois observo muitas mudanças, as quais eu não consigo assimilar, onde percebo várias inversões de valores. Sei que o mundo necessita de evoluções, e se fazem necessárias, até porque não sou um sujeito retrógado, porém, se minha opinião ainda serve para alguma coisa, eu não sou contra a evolução da Inteligência Artificial, o que me preocupa e incomoda é a atrofia da inteligência natural. Desta forma, gostaria de ratificar tudo que aprendi durante esse tempo todo de existência, reforçando que: “existem apenas duas coisas neste mundo que podem transformá-lo para melhor, que são exatamente o amor e a educação”, fazendo com que as futuras gerações possam viver harmoniosamente, segundo os preceitos de nosso Maior Mestre Jesus Cristo, e ainda que de vez em quando é bom ouvir a voz interior, pois nem todas as outras do mundo serão maiores e melhoras que ela, pois a primeira chega ao coração, enquanto as outras, chegam aos ouvidos.

E emocionado começa a falar o conselheiro tutelar (o espectador):

_ Meu Deus!

_”Onde eu vim amarrar minha égua?”

_Hoje o poste está fazendo xixi no cachorro!

_Que mundo é esse em que estamos vivemos?

_Para que servem as leis e os livros?

_Pais que não respeitam filhos e vice-versa!

_Cadê os diálogos?

_Onde errou a tecnologia?

_“Que saudades da professorinha!”

_As escolas hoje são apenas depósitos ou válvulas de escape de filhos rebeldes e desrespeitosos, para os pais que passaram a temê-los, onde perderam seus controles, transferindo suas responsabilidades para as professoras, como se essas fossem obrigadas a educar os filhos de outros?

_O respeito e a obediência subiram no telhado?

_Não se pode mais corrigir? Umas palmadas agora é crime?

_E o crime, propriamente dito, não está formando súditos, nestas negligencias?

_Será que essas crianças e adolescentes, perderam a noção e o bom senso, vislumbrados com tantos direitos?

_E os pais esqueceram o que é autoridade? Claro, sem autoritarismo!

_ E os problemas? Sempre os mesmos e reincidentes, só mudam de endereço! Parecem serem insolucionáveis? Pois bem, pra mim, a própria não solução, é a sua sentença.

_Polícias, juízes, promotores, professores, assistentes sociais, psicólogos e conselheiros tutelares “jogaram pedras na Cruz”?

_Sistema de Garantias de Direitos falidos, sem apoio das esferas de governo, poderão fazer o que, onde o plantão de 24h estão restritos apenas às polícias, hospitais e conselhos tutelares?

_Instituições de acolhimento que não corrigem nada e nem ninguém, pelo contrário, somente agravam o psicossocial, por vezes, virando casas de futuros marginais!

_Governantes que não assentam ao redor de uma mesa para discutirem uma maior dignidade aos menos afortunados!

_E responsabilidade social e comunitária, ficará somente em folhas de papel?

_Empatia, partilha, doação, compromisso, ficaram renegadas apenas aos “homens de boa vontade?

_Pois é!

_ Estão se preocupando muito em proteção de “defender os direitos”, sem contudo, lhes ensinar e cobrar, que para tê-los, faz se necessário entender que estes estão proporcionalmente vinculados aos deveres, quais são seus pré-requisitos, a fim de evitar que, um poucos anos, as penitenciárias do país sejam colapsadas.

_O que são o amor e a educação?

Assim caminha a humanidade...

E, já de madrugada, fui tentar dormir...

 

27/10/2024

Antônio de Pádua Elias de Sousa

Formiga-MG                                    

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