“Ecos do ECA”
Ø Um filho (a criança),
Ø Um irmão (o adolescente),
Ø Um jovem (o aprendiz),
Ø Um pai (o adulto),
Ø Um avô (o idoso),
Ø E um conselheiro tutelar (o ouvinte).
Esta
era uma reunião imaginária, de 6 (seis) pessoas, por volta das 22h, de um
domingo qualquer, onde durante uma retrospectiva de situações cotidianas,
alguém resolveu buscar na história de vida, acontecimentos para uma avaliação e
meditação da contemporaneidade.
Assim
iniciou o filho (a criança):
_
Eu, fui educado em uma família grande, onde fomos ensinados a pedir a benção, para
os nossos pais, antes de dormir e ao acordar, normalmente acompanhados de um beijo,
em demonstração de carinho, com poucos recursos financeiros, mas nunca passamos
necessidade de nada, porém, tínhamos que saber caminhar, para “não darmos o
passo maior que a perna”. Nossos valores estavam vinculados à uma boa educação
rígida com ética, moral e bons costumes, além do respeito e obediência aos
pais, aos mais velhos, e com muita religiosidade, onde aprendemos, que existe
um Ser Superior, O qual chamamos de Deus, independentemente de crença
religiosa, que deveríamos amá-Lo e respeitá-Lo em qualquer situação enfrentada,
sendo Ele o Nosso Criador.
Em
seguida tomou a palavra o irmão (o
adolescente):
_
Pois é isso, nós tínhamos que nos unir, colaborar uns com os outros, irmãos
mais velhos cuidando dos mais novos, não havia muita tecnologia, aliás, quase
nenhuma, apenas um radinho a pilha, uma televisão em preto e branco, um
aparelho de telefone fixo, que para fazer uma ligação, necessitava de uma
agente da operadora, para realizar a chamada, uma máquina de escrever e nossas
pesquisas escolares eram feitas em bibliotecas, ou em poucos livros em casa. A
propósito, falando de escola, dávamos muito valor aos estudos, pois sabíamos
que para melhorarmos nossa condição, necessitávamos aprender, e nossas
professoras eram chamadas de mestras e não de “tias”, contávamos com um
disciplinador, para a entrada, recreio e saída da escola, além das cantineiras
que nos faziam umas refeições deliciosas, onde o respeito e obediência a esses
era quase uma extensão de nossas casas. Ai de nós, se cometêssemos alguma
malcriação ou desrespeito! Tempo bom, podíamos ficar nas ruas, sem medo, casa
sem tranca ou grades, onde nossas brincadeiras eram recheadas de jogos de
futebol, botão e tabuleiros, bolinha de gude, bete-alta, finca, carrinhos de
rolimã e empinar pipas, tudo com hora marcada de início e fim. Às vezes uma
desavença ou outra, com algum colega, mas tudo se resolvia com um conselho, ou
palavra de boa amizade, onde se restabelecia a paz, em poucos instantes. Éramos
felizes e tínhamos consciência de boas amizades.
Nesse
momento interveio o jovem (o aprendiz):
_
Realmente, você tem razão. Começámos a trabalhar cedo, conciliando escola e
serviço, onde procurávamos, nos estudos e nas tarefas, a melhor forma de
conhecimento e de contribuição como cidadãos de direitos e deveres. Muitos de
nós saíamos de nossa casa, para buscar formação acadêmica e profissional, em
outras terras, onde aprendemos a dar valor às conquistas, ainda que com
saudades de casa, mas era preciso ir à luta, se quiséssemos vencer. Muitos
desafios, porém, a cada batalha vencida ou não, um novo aprendizado, com os
erros e acertos, obviamente, mas que serviram de experiências. De repente,
novas tecnologias, acesso aos computadores e à Internet, onde a gente soube
tirar proveito destas, para facilitar a vida cotidiana e a encurtar distâncias,
incluindo os celulares, de tal forma que concluíamos com planejamento e
organização tudo que nos era apresentado como desafios, alçando com êxito
nossas metas, inclusive nas questões pessoais, em relação ao namoro e o
afastamento de drogas ilícitas, pois as informações eram imediatas e adquirimos
o discernimento para fazermos nossas escolhas, as quais todas elas, apresentam
os seus resultados e as suas consequências.
Aí
então, se manifesta o pai (o adulto):
_
Ouvindo tudo isso, fico cada vez mais convicto de que a “melhor herança que um
pai pode deixar para seus filhos, é justamente a educação, mesmo que ele não a
tenha!” Além de que, educação é responsabilidade de pai e mãe, não podendo
transferi-la para as escolas, onde estas lhe cabem apenas a tarefa do ensino de
matérias curriculares e extracurriculares, e por complemento, alguma noção de
cidadania. Desta forma, fica bem caracterizado que lugar de filho é em casa e
de aluno é na escola, com suas tarefas distintas. Aliás, eu sempre disse aos
meus filhos, que poderiam me chamar nas suas escolas para qualquer atividade que se
fizesse necessária, menos, repito, menos por indisciplina, justamente, porque
essa não cabe em lugar algum. Até porque, eu os criei sem necessidade de lhes
bater, e sim fazendo uso das palavras, não que não tenham feito por merecer,
mas na minha concepção, palavras ensinam e surras doem, além da covardia de não
poderem revidar, visto ao respeito que devem prestar e da desproporcionalidade
do tamanho e força. E sabedor de que não
somos perfeitos, e que não temos a necessidade de provar nada para ninguém, mas
isso jamais, não nos impede de nos superarmos a cada dia, para tentarmos ser e
fazer o possível que se possa, na construção de um mundo melhor, procurei
deixar-lhes mais que algumas palavras, transformando-as em exemplos, inclusive
de que “honestidade não necessita de vigilância.”
No
que vem complementar o avô (o idoso):
_
Com todos esses relatos, eu realmente me sinto orgulhoso e em paz, pois concluo
que deixei um bom legado, em que pudessem aprender e ensinar alguma coisa de
útil e proveitosa, vendo que meus esforços não foram em vão. Gostaria que vocês
fizessem o mesmo, para a posteridade, pois observo muitas mudanças, as quais eu
não consigo assimilar, onde percebo várias inversões de valores. Sei que o
mundo necessita de evoluções, e se fazem necessárias, até porque não sou um
sujeito retrógado, porém, se minha opinião ainda serve para alguma coisa, eu
não sou contra a evolução da Inteligência Artificial, o que me preocupa e incomoda
é a atrofia da inteligência natural. Desta forma, gostaria de ratificar tudo
que aprendi durante esse tempo todo de existência, reforçando que: “existem
apenas duas coisas neste mundo que podem transformá-lo para melhor, que são
exatamente o amor e a educação”, fazendo com que as futuras gerações possam
viver harmoniosamente, segundo os preceitos de nosso Maior Mestre Jesus Cristo,
e ainda que de vez em quando é bom ouvir a voz interior, pois nem todas as
outras do mundo serão maiores e melhoras que ela, pois a primeira chega ao
coração, enquanto as outras, chegam aos ouvidos.
E
emocionado começa a falar o conselheiro
tutelar (o espectador):
_
Meu Deus!
_”Onde
eu vim amarrar minha égua?”
_Hoje
o poste está fazendo xixi no cachorro!
_Que
mundo é esse em que estamos vivemos?
_Para
que servem as leis e os livros?
_Pais
que não respeitam filhos e vice-versa!
_Cadê
os diálogos?
_Onde
errou a tecnologia?
_“Que
saudades da professorinha!”
_As
escolas hoje são apenas depósitos ou válvulas de escape de filhos rebeldes e
desrespeitosos, para os pais que passaram a temê-los, onde perderam seus
controles, transferindo suas responsabilidades para as professoras, como se
essas fossem obrigadas a educar os filhos de outros?
_O
respeito e a obediência subiram no telhado?
_Não
se pode mais corrigir? Umas palmadas agora é crime?
_E
o crime, propriamente dito, não está formando súditos, nestas negligencias?
_Será
que essas crianças e adolescentes, perderam a noção e o bom senso, vislumbrados
com tantos direitos?
_E
os pais esqueceram o que é autoridade? Claro, sem autoritarismo!
_
E os problemas? Sempre os mesmos e reincidentes, só mudam de endereço! Parecem
serem insolucionáveis? Pois bem, pra mim, a própria não solução, é a sua
sentença.
_Polícias,
juízes, promotores, professores, assistentes sociais, psicólogos e conselheiros
tutelares “jogaram pedras na Cruz”?
_Sistema
de Garantias de Direitos falidos, sem apoio das esferas de governo, poderão
fazer o que, onde o plantão de 24h estão restritos apenas às polícias,
hospitais e conselhos tutelares?
_Instituições
de acolhimento que não corrigem nada e nem ninguém, pelo contrário, somente
agravam o psicossocial, por vezes, virando casas de futuros marginais!
_Governantes
que não assentam ao redor de uma mesa para discutirem uma maior dignidade aos
menos afortunados!
_E
responsabilidade social e comunitária, ficará somente em folhas de papel?
_Empatia,
partilha, doação, compromisso, ficaram renegadas apenas aos “homens de boa
vontade?
_Pois
é!
_
Estão se preocupando muito em proteção de “defender
os direitos”, sem contudo, lhes ensinar e cobrar, que para tê-los, faz se
necessário entender que estes estão proporcionalmente vinculados aos deveres, quais são seus pré-requisitos,
a fim de evitar que, um poucos anos, as penitenciárias do país sejam colapsadas.
_O
que são o amor e a educação?
Assim
caminha a humanidade...
E, já de madrugada, fui tentar dormir...
27/10/2024
Antônio de Pádua Elias de
Sousa
Formiga-MG
Nenhum comentário:
Postar um comentário